Os perigos do cafezinho

Pesquisadores da UEZO detectam contaminação por micotoxinas no café brasileiro



Ele é o preferido em 95% dos lares brasileiros. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Café, em 2013, cada habitante consumiu, em média, cerca de cinco quilos do alimento. Mas o que poucos brasileiros sabem é que essa paixão nacional pode trazer riscos para a saúde dos consumidores.

Pesquisadores da Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) tem trabalhado para desvendar os perigos que rondam o café. Há três anos, uma equipe chefiada pelo professor Marco Antonio Mota, dos cursos de Farmácia e de Tecnologia em Produção de Fármacos, investiga a presença de micotoxinas em diferentes marcas de café comercializados na cidade do Rio de Janeiro.

- Essas micotoxinas são produzidas por fungos, microrganismos que podem contaminar os grãos de café na fase de colheita e pós-colheita, ainda no campo. A principal micotoxina que contamina os grãos de café é chamada de Ocratoxina A. Nós constatamos que a maioria das marcas comerciais de café que chegam à mesa do consumidor brasileiro tem níveis consideráveis de ocratoxinas, explica o professor Marco Antonio.

O projeto, intitulado “Avaliação dos Padrões de Qualidade e Detecção da Presença de Ocratoxina A em Amostras de Café”, já analisou diferentes marcas de café torrado e moído, através de um programa de monitoramento realizado entre diferentes períodos de investigação. O pesquisador Marco Antonio explica que todos os valores de ocratoxinas encontrados na pesquisa estavam abaixo do limite máximo tolerado (LMT) estabelecido em Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas que esse resultado não afasta a possibilidade de que os consumidores tenham problemas a longo prazo.

- O grande problema é o que nós chamamos de toxidade crônica. O café é um produto que nós consumimos diariamente, já é hábito dos brasileiros. Então você vai ingerindo pequenas quantidades de micotoxinas e dependendo da dose e do organismo, determinadas pessoas podem ficar suscetíveis à intoxicação. A situação ideal era que as amostras estivessem isentas deste contaminante, alerta o professor.

A ocratoxina A também foi considerada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) como “substância provavelmente cancerígena”. O que, para o professor, exige um cuidado redobrado com a ingestão desta micotoxina.

- A literatura e os trabalhos científicos já descrevem que, dependendo da dose ingerida, essas micotoxinas podem causar problemas, como câncer no fígado e nos rins e até má formação de fetos, por exemplo. Estudos realizados em animais comprovam estes efeitos, sinaliza Mota.

A primeira parte do estudo foi desenvolvida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ).

- Agora estamos em contato com o Instituto Nacional de Controle e Qualidade em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, para que publiquem os resultados da nossa pesquisa e do trabalho de monitoramento que foi realizado em parceria com eles. E prosseguimos com os trabalhos em laboratório, conclui o professor Marco Antonio.

Equipe responsável: Prof. Dr. Marco Antonio Mota da Silva (UEZO), Profa. Maria Heloisa de Moraes (INCQS-FIOCRUZ), Vanessa Valle (Laboratorista UEZO), Bianca Valle e Vanessa Silva (alunas do curso de Farmácia da UEZO).


Professor Marco Antonio Mota

18/07/2014 15h40m